Quatro anos carregando livro embaixo do braço

Comemoramos hoje quatro anos que Mocassins e All Stars ganhou sua primeira edição. Foi numa tarde de domingo, em Botafogo, em uma casinha simpática em uma rua pouco movimentada que eu e Aimee Oliveira lançamos nossos livros. Sim, porque hoje também comemoramos aniversário de publicação de Pela Janela Indiscreta. O Psicose da Nina cobriu tudo, já que eu e Dani somos amigas há muito mais que 4 anos. Esse post é para celebramos essa data, mas também considerarmos um pouco tudo que rolou nesses últimos anos.



Quando finalmente conseguimos colocar as mãos nos livros, percebemos que teríamos que fazer tudo por conta própria. Nossa primeira editora, no final das contas, nos deixou super na mão e nos fez pagar uma exorbitante quantia cada uma por míseros 300 exemplares de cada livro. Na época, 300 parecia um número absurdo e quando eles chegaram na minha sala de estar eu comecei a chorar. De felicidade, sim, mas também de pânico. O que eu ia fazer com 300 livros? Quem ia querer comprá-los? Eu estava falida e com caixas e caixas de livros empilhadas na minha sala de estar. Era isso que era ser escritora?

Eu e Aimee tivemos que resolver tudo para o lançamento. Na verdade, tivemos que resolver tudo sobre tudo. Depois de nos darmos conta de que seria impossível fazer um lançamento em livrarias com as taxas que elas cobram, concluímos que íamos ter que fazer um lançamento do zero, em algum play ou algo assim. Por sorte e bons contatos, uma amiga querida de muitos anos me ofereceu uma casinha bucólica em Botafogo, zona Sul do bairro e acolheu nós duas com muito amor. E aí foi tempo de organizar tudo, entre todas as outras atividades normais que tínhamos no nosso dia-a-dia. Foi louco, bastante insano mesmo, mas no final das contas, deu tudo certo e o lançamento ficou pronto para ocorrer no dia 25/05/2014, com um monte de lágrimas envolvidas, muito estresse e exaustão.



A casa ficou cheia, com muitos amigos e familiares, mas nenhum leitor. Os leitores que estavam lá eram aqueles que, em certa medida, já tinham se tornado nossos amigos também. Éramos as duas crias de postagens online, no Orkut. Aqueles dois livros tinham sido lidos por uma quantidade enorme de pessoas antes da plataforma ser morta e enterrada. E o tempo que demorou desde a assinatura do contrato de publicação (2009/2010) até o dia em que a gente pode pegar os exemplares na mão (2014) nos fez questionar se a gente não estava morrendo e sendo enterradas com ele. Toda "fama" que a gente tinha adquirido no processo de escrita no Orkut já estava apagada e, agora, com 300 livros cada uma, precisávamos nos reinventar para colocá-los na rua.

Foram anos de reinvenção até hoje. Precisamos reinventar, em certa medida, até mesmo quem somos. Com o perfil tímido que nos fez publicar online só para pessoas desconhecidas, agora nós tínhamos que nos mostrar para o mundo, carregar os livros embaixo do braço e fazer bem a Duny: esse é meu livro, eu que escrevi. Eu que sempre detestei falar em público tive que esconder a tremedeira para dar palestras em escolas e participar de eventos. Eu que nunca quis incomodar, tive que aprender a abordar pessoas nas Bienais e perguntar se elas não queriam ouvir a palavra de Arthur. Eu, que não fazia a menor ideia de como era ser escritora no Brasil, aprendi da melhor e da pior forma: na prática, levando muita rasteira da vida e levantando feito uma fênix, todas as vezes.

Foram quatro anos loucos e de muito, muito, MUITO trabalho. Teve uma segunda edição, muitas Bienais (estamos indo para a quinta!), muito dinheiro investido que não vimos nunca mais nem a cor, muitas noites sem dormir preparando brindes, muitos dias gigantescos onde passávamos mais de 12h em pé na Bienal trabalhando, muitas gagueiras disfarçadas no meio das palestras, muitos dias perdidos em frente ao computador tentando escrever alguma coisa decente para nossas histórias no Wattpad, que tinham crescido tanto que agora nos deixavam um pouco apavoradas (e imensamente felizes) e muito medo de dar tudo errado e de precisarmos nascer das cinzas de novo. Quatro anos de choros constantes, sorrisos gigantescos quando víamos algum leitor e certeza de que esse é o caminho, por mais que ele tenha suas pedras e seja tortuoso.

É uma vida difícil, mas a melhor que eu podia pedir. Não existe nada mais gratificante do que a sensação de que você está realizando seus sonhos, um por um. E os momentos de alegria são aqueles que fazem a gente renascer dos tombos, prontas para começarmos de novo, sempre carregando livros embaixo do braço. O aniversário é do livro, mas nosso agradecimento é para vocês. Cada uma das pessoas que apareceu no dia do lançamento, cada um dos leitores que foi nos prestigiar em eventos e Bienais, cada uma das pessoas que considerou nossos livros dignos de irem morar na sua estante, cada leitor que resolveu mandar um depoimento por inbox e nos fez lembrar porquê amamos isso, cada pessoa que nos disse SIM, quando estávamos cansadas de ouvir tantos nãos... Enfim, todos vocês que de certa maneira apoiaram nosso percurso durante esses quatro anos e que torcem pela gente, pelo nosso futuro, pelo nosso sonho e pela nossa carreira.

Eu queria fazer um bolo, mas estou viajando (você pode acompanhar minhas andanças no meu Instagram @claraguta), mas fica aqui a vontade e a promessa de que vou fazer um bolo em breve. O futuro ainda é incerto e um pouco nebuloso, mas seguimos em frente com a certeza de que tudo vai dar certo por conta do apoio de vocês e dessa vontade imensa no nosso coração.

Então, parabéns Mocassins e All Stars! Parabéns Pela Janela Indiscreta! Parabéns Aimee, parabéns para mim! E parabéns para todos vocês, que caminharam com a gente todo esse tempo. Vocês são show!




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