O mundo lá fora parecia cair. Eu sempre gostei de chuva, mas não quando eu precisava enfrentá-la. Cogitei a possibilidade de desistir. "Ele ainda não deve ter saído de casa", penso comigo. "A gente pode combinar outro dia, um menos caótico", tento me convencer. Eu já tinha avisado que iria atrasar, podia simplesmente dizer que desisti. Como fiz diversas vezes ao longo desse ano. "Mas não dessa vez", uma outra vozinha diz lá no fundo.
Pego o guarda chuva e vou! Simplesmente saio. Deixo minhas passadas fortes e determinadas espalharem a água que começava a se acumular em pequenas poças. Ignoro o latejar da minha cabeça. Eu sei que a minha maior dificuldade, independente do clima ou da época do ano, é sair de casa. Sempre preciso de uma força a mais para tomar essa decisão, um empurrão.
No caminho até o metro, penso nas vezes que passamos por ali rindo. Lembro das diversas vezes que tive essa mesma sensação, que o mundo estava caindo, eu estava caindo e não queria sair de casa, mas alguma coisa fez com que eu saísse. "Ah! Como eu ri naquele dia!", sorrio enquanto um filme passa na minha cabeça. Estar com ele era muito bom.
Chego na plataforma do metro e... Nada. Ele ainda não está ali. Aquele sentimento de que não deveria ter saído percorre o meu corpo. "Eu vou voltar. Vou subir a ladeira e me trancar dentro do meu ninho." Ligo para o celular dele, mas cai direto na caixa postal. Eu quero gritar com ele. "Custava chegar mais cedo ao menos uma vez?".
Recebo uma mensagem:
Fui para estação errada!
Quero mandar ele se ferrar. Como ele errou a estação? Como ele me deixa ali sozinha com todas as minhas paranoias.
Poucos minutos depois, uma nova composição de vagões chega. Em meio a multidão que luta para entrar e sair, ele surge. O único sentimento que tenho é de raiva. Quero dizer: "Ótimo que você chegou, porque eu vou para casa". "Deixa disso", aquela vozinha fala de novo na cabeça entre as marteladas de uma suposta enxaqueca.
Não me esforço para esconder que estou chateada, irritada, brava. Eu sei que vai passar. Ele também. Em meio as jogações de coisa na cara e explicações do tipo "Hoje está dando tudo errado!", nós chegamos na estação de destino.
Lá no fundo quero admitir que a raiva passou, como a gente sabia que ia passar. Queria dizer muitas coisas na realidade. Não só para ele, mas para todas as pessoas que de alguma forma me fizeram sair de casa, me fizeram levantar da cama e pensar "Perai! Ainda existe motivo para sorrir". Me agarro ao braço deles, meu por seguro para enfrentar as ruas.
- Feliz Natal para o casal! - um senhor negro passou seguindo o seu caminho para plataforma, enquanto saíamos da estação.
Nos entreolhamos e sorrimos. Realmente, ainda existe motivo para sorrir aqui fora.
Oi, Nina!
ResponderExcluirUm ótimo conto sobre como Natal ainda é uma época de alegria!
Beijos
Balaio de Babados
Participe do Natal Literário
Participe da promoção de três anos de Um Oceano de Histórias
Participe do Sorteio de Final de Ano
Oi Lu!
ExcluirSim!! Natal ainda pode ser sobre as pequenas coisas que ainda nos fazem feliz :)
beijo
que texto mais lindo! um feliz natal para vc e tds a sua volta, com mt luz e alegria
ResponderExcluirwww.tofucolorido.com.br
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Obrigada, Lívia!
ExcluirDesejo tudo em dobro para você <3
beijos