Jardim Feminista: Resenha do conto "A culpa foi sua..." e entrevista com as autoras

O Jardim Feminista foi criado no Psicose com o objetivo de ser mais uma florizinha nessa primavera ~ eterna ~ feminista. Hoje trazemos uma outra flor para o nosso jardim, ou melhor, duas flores.


Alice Pasquini - conheça o trabalho dessa artista clicando aqui.

Vivian e Maina, blogueira do Cada Livro uma Paixão e GeoPoetizando, se juntaram para escrever o texto "A culpa foi sua...". O conto fala sobre diversos abusos que as mulheres sofrem ao longo da vida e, no final do post, você encontra uma entrevista com as autoras.

Nesse pequeno conto conhecemos a história de uma jovem garota com os seus 20 e poucos anos. Apesar de se tratar de uma personagem fictícia, as autoras tiveram o cuidado de não nomeá-lá para assim ficar mais fácil a geração de empatia.

A personagem começa contando um acontecimento de sua infância com bastante inocência. Ao meu ver, ali ela já se culpava por ter sido molestada aos 4 anos por uma pessoa próxima. Mesmo sem entender exatamente o que aconteceu ou porquê, ela acaba crescendo carregada de inseguranças devido a essa é outras formas de abuso que teve ao longo da vida.

"Quando terminamos o texto estávamos com um gosto amargo na boca, doeu escrever, doeu publicar porque apesar de ser um texto pesado, nós sabemos que isso acontece, muito. Diariamente alguma mulher sofre algum tipo de abuso sexual. O homem se acha no direito de pegar a força uma mulher sem pensar nas consequências que isso vai causar a ela."

- Vivian e Maina


Infelizmente, muitas mulheres passam na vida real pelo o que ela passou nessa história fictícia, e tantas outras tiveram o mesmo fim triste e doloroso.

Alice Pasquini
Esse tipo de produção artística é fundamental para discutirmos esse problema. Milhares de mulheres são abusadas e estupradas no mundo a fora e por muito tempo isso foi um tabu ~ quer dizer, ainda é. A mulheres se sentem culpadas por esses ataques pelo simples fato de serem mulheres. Isso nos faz questionar constantemente a nossa própria imagem. "Se fossemos homens, isso talvez não teria acontecido?", "Por que fui nascer mulher?".

Não podemos não sentir "culpadas" por sermos mulheres! Precisamos lutar para que as mulheres de sintam seguras em todas os sentidos e que os verdadeiros culpados sejam punidos!



Leiam o texto na íntegra nesse link no blog da Maina e no blog da Vivian.

Entrevista com as autoras


Nina: Olá, meninas! Eu quero saber como surgiu a ideia de abordarem esse tema em seus blog.

Vivian e Maina: A ideia surgiu em uma das nossas intermináveis conversas, falando sobre o medo de ser mulher, nossas experiências, vários tipos de brincadeirinhas, sem graça, que escutamos ao longo da vida.
Vivian: Deixei muitas vezes de ir ao cinema porque teria que voltar sozinha e a pé pra casa e eu tinha medo. Não só ao cinema, mas chupar um sorvete ou comer um lanche. Fiquei na vontade, pois meu medo era maior.
Maina: As pessoas acham besteira a gente ficar com medo, mas é só tá andando sozinha que a gente ouve cada absurdo. Não tem uma mulher que você pergunte, que não terá algo ruim para contar, seja física ou verbal. Da raiva de ter nascido mulher. Muitas vezes atravessei a rua, mudando minha rota, se não me sentisse segura naquele caminho. Muitas vezes desci a rua da minha casa correndo, com medo porque já estava escuro.


Nina: Apesar de esse ser um tema que, infelizmente, a sociedade nos deu propriedade para falar. Qual foi a referências que vocês usaram para escrevê-lo?


Vivian e Maina: Foram o dia a dia mesmo, reportagens na tv, redes sociais e relatos de pessoas próximas. A violência psicológica é sofrida quase todos os dias mas as pessoas ainda não tratam como violência, são tratadas como "brincadeiras" Já passamos por algumas situações e conversamos bastante sobre isso.
Vivian: Uma vez quando criança, depois outras quando adolescente, onde o pavor tomou conta de mim e me geraram alguns traumas. Conheço uma pessoa próxima que já foi atacada e o ato só não se concretizou pois recebeu ajuda na hora exata.
Maina: Tenho amigos e amigas que foram abusados sexualmente quando crianças. Sempre ouvi os relatos e senti a dor deles. Ouço muitas histórias.

Cave of Tales por Alice Pasquini

Nina: A história é bastante forte e intensa. Eu gostaria de saber mais sobre a construção da personagem e o que significou para vocês abordarem esse tema.

Vivian e Maina: Acho que no fundo pegamos um pouco da gente mesmo. Alguns detalhes, alguns pensamentos. Existe ainda o mito que a mulher é estuprada pois deu chance, porque se veste inapropriadamente, essa frase nos irrita profundamente. Criamos uma personagem que era uma menina séria, responsável e apaixonada. Queria se entregar por amor, aí vem um louco e destrói os sonhos dela. 
Quando terminamos o texto estávamos com um gosto amargo na boca, doeu escrever, doeu publicar porque apesar de ser um texto pesado, nós sabemos que isso acontece, muito. Diariamente alguma mulher sofre algum tipo de abuso sexual. O homem se acha no direito de pegar a força uma mulher sem pensar nas consequências que isso vai causar a ela. 
Maina: Fiquei doente quando acabei de escrever. Passei mal de verdade. Escrevemos a noite toda até as 7 da manhã. Quando finalmente dormi, tive pesadelos. Estávamos prontas para receber as pedradas, tijoladas e mensagens dizendo que o texto era MIMIMI.
Vivian: Mas para minha surpresa, recebi várias mensagens de pessoas que gostaram, dizendo que é isso mesmo que acontece mas ninguém tem coragem de dizer abertamente. Recebi recados de homens e mulheres, pessoas que eu nem imaginei que leria o texto. 
Maina: Foi a primeira vez que fiquei orgulhosa por escrever algo, sempre escrevi só para mim, porém dessa vez eu queria mostrar, eu queria que os leitores sentissem a dor da nossa personagem.

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