Resenha: Um Planeta em seu Giro Veloz

Voltamos mais uma vez com a série de livros de Madeleine L'Engle, que começa com Uma Dobra No Tempo. O terceiro livro foi um daqueles tipos de leituras que passam por nossas vidas, mesmo que sem querer, num momento mais que certo. Apesar de toda a série em si trazer uma mensagem de luta contra um mal maior que tenta dominar e destruir os muitos universos existentes, Um Planeta Em Seu Giro Veloz é ainda mais condizente com o momento que estamos passando, principalmente, em nosso país. 



Acho que vale fazer uma uma pequena recapitulação sobre os outros dois livros da série - que já foram resenhados aqui no PN. Se quiser pular o próximo parágrafo fique à vontade, mas eu preciso dessa recapitulação para organizar minha argumentação.

Em Uma Dobra no Tempo nós somos apresentados aos irmãos Meg Murry e Charles Wallace Murry e seu amigo Calvin que adentram a uma jornada para salvar o pai desaparecido dos Murry e todo o universo - que eles descobrem que está muito além do nosso planeta, com seres extraordinariamente mágicos - de um mal comum, os Ectrols (terceiro livro e ainda não tenho certeza se escrever assim, sorry). Nesse livro eles desafiam as leis da física para viajarem para planetas distantes através, do que podemos chamar, de "uma dobra no tempo". No segundo livro (até agora o meu favorito), Um Vento à Porta, Charles Wallace fica gravemente doente enquanto está tentando se adaptar ao colégio e para salvar sua vida, mais uma vez seres mágicos ajudam Meg e Calvin nessa jornada. Eles adentram a célula de Charles Wallace e descobrem que a doença em um elemento da célula do menino está ligado ao destino do universo. Esse livro passa uma mensagem muito bonita sobre como cada parte em nossa sociedade, planeta, universo, um menino, uma mitocrondea são importantes. 

Como vocês podem ver, os livros de Madeleine L'Engle seguem um padrão trazendo sempre dois elementos: o que fazemos ou deixamos de fazer impacta nossas vidas tanto no nível micro das nossas relações, como em todo o universo; e ela sempre escolhe como base para o enredo ligado a alguma área de estudo. Se nos outros livros ela explorou a física e a biologia (de alguma forma), em Um Planeta em seu Giro Veloz, a história aparece como um elemento importantíssimo!

Para começar, os eventos do terceiro livro acontecem 10 anos após Um Vento À Porta, em uma noite de Ação de Graças. Essa uma parte é muito louca da história, pois a nossa pequena Meg agora está esperando o seu primeiro filho de Calvin, que se tornou um cientista (vou conversar melhor sobre isso mais para frente). A questão é que toda a família está lá reunida, inclusive a a sogra de Meg, Branwen Maddox O'Keefe, quando pai de Meg recebe a notícia que o mundo está correndo o risco de uma iminente guerra nuclear causada pelo ditador "Mad Dog Branzillo". Mais uma vez (esqueci de colocar esta característica dos livros dessa série), um ser mágico surge para ajudar os Murry a salvarem o mundo.


Infelizmente, Meg não faz muita coisa nesse livro, pois Madeleine achou que seria uma boa ideia ela estar grávida. Nada contra Meg ser mãe, muito pelo contrário, as mulheres precisam escolher o que querem fazer com seus corpos e suas vidas (e ninguém tem mais nada a ver com isso). Mas com a minha visão feminista sobre a personagem, eu esperava que ela tivesse mais "ação".  Talvez seja uma questão de contexto de quando os livros foram escritos (esse livro é de 1978). De qualquer forma, Meg acompanha (de casa) Charles Wallace nessa aventura através da desvelação (uma espécie de telapatia). A parte mais empolgante para mim foi que o ser mágico que ajuda o menino dessa vez é um unicórnio! Juntos eles viajam no tempo para lutar contra os Ectrols que tentam alterar a história em seu favor. Tudo tem uma ligação, que começa justamente com as "loucuras" da  Sra. O'Keefe.

Falando em Sra. O'Keefe, quem leu o primeiro livro sabe o quanto Calvin sofria na mão da mãe abusiva. Ela facilmente passaria por uma "vilã" nessa série. Não que as maldades feitas pelas pessoas possam ser abonadas pelo seu passado difícil, mas com certeza justificam muitas atitudes. Em Um Planeta em seu Giro Veloz, nós temos a oportunidade de conhecer um pouco mais do passado dessa personagem e até a nutrir um pouco de empatia por ela.

Quando eu disse que esse livro passou pela minha vida em um momento muito importante é justamente pela reflexão que ele traz sobre a importância da história. Precisamos ter consciência de que o que vivemos hoje não é fruto de uma "geração espontânea", as coisas não acontecem do nada, tudo tem uma passado, uma origem - tanto as sociedades, como as pessoas. E sim, todas as histórias fazem diferença! Felizmente ou infelizmente ainda não existe uma máquina no tempo, ou seres mágicos que possam fazer com que mudemos o que aconteceu no passado, mas é de extrema importância que busquemos conhecimento sobre o que de fato aconteceu e para que assim possamos escolher dizer "não" para o que não queremos mais. 

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