O diário de uma (quase) caloura: Aos desorientados, com carinho

Eu aqui estou sentada na biblioteca da faculdade. Da minha nova faculdade - isso é um ponto importante. Acho que esse pequeno detalhe - “nova” - faz bastante diferença no meu olhar para as coisas, principalmente, porque existe uma “velha”.

Uma carta sobre os meus medos e temores de começar a uma segunda graduação.

Eu não sei ao certo se realmente estou tendo um sentimento de recomeço. Acho que está mais para uma “continuidade”, como se nesses últimos cinco anos, eu estivesse num preparatório puramente teórico. Não que eu me ache mais inteligente do que os outros calouros, longe disso, mas sinto que perdi um pouco da inocência do primeiro período. Com certeza me sinto mais preparada, talvez não tão segura como eu gostaria de estar, mas acho que isso é natural. No final das contas, é um curso novo e uma faculdade nova. 

Decidir que eu precisava fazer uma outra faculdade, depois de me formar numa primeira, não foi fácil. O fator de complicação nessa história é eu colocar na minha cabeça que não é tarde de mais, que não há nada de errado em… Começar de novo? É engraçado, porque realmente não estou encarando isso como um recomeço. 

Um fato que me surpreendeu bastante é que pelo menos metade da turma veio de outro curso. Pessoas que acreditaram que sua vocação pudesse ser física quântica, mas que acabaram experimentando biologia e acabaram aqui. 

Okay. Nenhuma delas precisou concluir uma graduação inteira para descobrir que realmente não era aquilo que queria para vida. Sortudos? Não sei. Talvez mais perspicazes.

Colação de grau oficial em janeiro de 2015. 
A questão é que finalmente senti que estou no lugar certo. Sei que isso soa bastante clichê. Mas na minha primeira faculdade, eu me empolgava com quase tudo também, eu tinha (e tenho, na realidade) a curiosidade dentro de mim. Então, estudar antropologia, sociologia, história e política internacional me contentava. Eu realmente achei em algum momento que eu pudesse fazer uma grande descoberta sociológica. Eu me interessava por uma coisa aqui, outra ali. Quantas idéias de projetos e pesquisas diferentes eu tive? Era em meio a essa desorientação que eu deveria ter sido mais perspicaz. 

O comodismo e outros fatores que não vem ao caso agora me engessaram. Eu estava feliz em contemplar a minha curiosidade e enriquecer o meu conhecimento, que infelizmente, já perdi boa parte com essa minha memória de curto prazo. No entanto, eu guardo experiência e até um conhecimento aqui outro acolá, e ao assistir as minha primeiras aulas simplesmente senti uma explosão dentro de mim. Aquilo era realmente o que eu queria fazer, eu queria usar toda minha base cultural e social para criar, para fazer acontecer. Louco né? Mas acho que nunca senti tanta vontade de escrever e aprimorar a minha escrita como nessas últimas semanas. 

Sabe porquê? Eu me vejo trabalhando com isso. Eu não me via como socióloga, eu não me via dando aula ou desenvolvendo uma pesquisa nessa área. Mas hoje me vejo sendo uma redatora, ou uma roteirista, até mesmo fazendo parte da equipe de pesquisa de mercado, por que não? Acho que hoje, mais madura e menos desorientada, percebo que você não pode simplesmente gostar do que está estudando, precisa se ver no futuro trabalhando com aquilo. E mesmo que você não tenha se achado logo de cara, nunca é tarde para você se encontrar.

2010. Caloura do curso de Ciências Socias da UFRJ.
Essa é a minha, não tão pequena, carta para todos os desorientados vocacionalmente nessa vida. Não desistam nunca de serem o que realmente querem ser, mesmo que você não descubra isso tão cedo.

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