O Medo que dá

Conheci minha melhor amiga quando nós tínhamos quatro anos. Claro que eu não me lembro de nosso primeiro encontro, mas dizem que em seu primeiro dia de aula, ela estava chorando e eu fui em seu socorro, prometendo que a escola era um lugar muito legal. Se era ou não muito legal, Renata pôde julgar sozinha depois mas, com certeza, depois de minha intromissão, ela não teve mais medo. Caminhou ao meu lado, de mãos dadas comigo e permanecemos assim até hoje.

Passaram-se muitos anos desde essa história, mas constantemente me lembro dela. Muitas vezes me vejo olhando em volta, em busca de uma intervenção que possa me tirar da letargia ocasionada pelo medo de começar. A verdade é que a maior parte das vezes não enxergo nem a mim. Nem na versão infantil, nem na versão 20 anos mais velha.

Demorei muitos anos e, pra ser sincera, até hoje fico balançada, para entender que meu medo paralisante era fruto de mim mesma.




É normal ter medo do desconhecido. É normal se sentir inseguro perante as incertas. É normal ter receio de começar algo novo - desde uma escola nova até uma coluna nova num blog, rs. O medo passa a ser anormal quando ele se torna um obstáculo insuperável, ao invés de um passageiro frio na barriga. Quando, por tanto medo das coisas darem errado, você desiste antes de começar.

Por exemplo, imagine se eu interrompesse o texto aqui. Se meu medo de ninguém ler, de ninguém achar interessante e de receber críticas maldosas me impedisse de continuar digitando neste teclado e me fizesse pedir para abandonar a coluna, antes mesmo dela ir ao ar. Talvez isso não fizesse nenhuma diferença na sua vida ou na vida da Nina, mas tenha certeza que faria na minha. 

A cada nova desistência a escuridão interior aumenta e, com ela, o medo. É um ciclo-vicioso, com tendência de aumentar seu tamanho. Se é medo que te impede de começar algo novo, no momento que você desiste, você o alimenta. E, da próxima vez, o medo vai ser maior e cada vez mais incapacitante...

Os caminhos iniciais não são fáceis e a vontade de desistir muitas vezes vem com força. Com mais força ainda tem que vir sua convicção de que sim, você consegue. Não, não é para desistir. E esse tem que ser um exercício diário. No fundo, é um exercício de amor próprio. De se achar merecedor e bom o bastante. De confiar que você é capaz de alcançar seus sonhos, por mais difíceis que eles pareçam.

Não é a vida que te paralisa. É você que acaba paralisando sua vida.

Se você não quer seguir o meu conselho, siga o de Renato Russo:

“Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos nunca vão dar certo
Ou que você nunca vai ser alguém.

Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Mas eu sei que um dia a gente aprende

Se você quiser alguém em quem confiar,
Confie em si mesmo.
Quem acredita sempre alcança!”
(Mais Uma Vez – Renato Russo)

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