Não julguem um autor por ser novo*!

Na bienal do livro no ano passado, eu estava tirando foto de uma passeata organizada por grupo da minha amiga-escritora para incentivo da leitura e consumo de livros nacionais. Do nada, eu fui surpreendida por um senhor que me estendia um livro. Me senti muito desconfortável para ignorá-lo, mas prestei mais ou menos atenção no que ele dizia, enquanto eu olhava o grupo o qual eu deveria estar tirando foto indo embora.

O senhor-escritor estava apresentando o seu livro, me contando a história incrível sobre o personagem principal encontrar seres de outros planetas ou coisa do tipo. Sendo educada, eu peguei o celular para anotar o nome, mas ele disse: "Tira uma foto é mais fácil! É só me procurar no facebook".


Além da minha real falta de interessante, o livro custava mais de trinta reais. Na minha cabeça passava: "Porque eu pagaria tudo isso no livro de uma pessoa randômica?". Antes de sair, eu vi o cara apresentando o livro para um segurança da bienal. No dia achei aquilo engraçado: "o cara tá tão desesperado que está tentando vender até para o segurança" (que pensamento idiota da minha parte!)

Já não tenho mais a foto do livro dele e por mais que eu não fosse comprar o livro, eu poderia ter pesquisado mas sobre o senhor-escritor. Quem sabe eu tivesse algum amigo que gostasse de leituras sobre seres de outro planeta? Quem sabe se eu mesma tivesse lido a sinopse não acabe encantando pela sinopse?
Infelizmente é assim que vida funciona. 

Existe um mercado enorme de consumidores de livros, mas poucos estão interessados em gastar seu dinheiro comprando o livro de um autor desconhecido, com uma editora mais desconhecida ainda. Todos queremos o novo livro da J. K. Rowling, mas só porque descobrimos que ela que escreveu o livro. 

Não sei se vocês sabemos, mas "O chamado do cuco" foi lançado em segredo pela J. K. com um pseudônimo para ver como sua obra seria aceita no mercado. O livro só explodiu mesmo em vendas quando descobriram quem o havia escrito.

E essa é a questão, temos que parar de ser preconceituosos - já bastam as grandes editoras que dão pouco incentivo para os jovens escritores ou senhores-escritores -  e tentar descobrir o próximo "J. K. Rowling" brasileiro.

Porque além das produções independentes serem livros desconhecidos de autores desconhecidos, elas também decaem sobre o estigma de produção nacional. Eu não tenho números de consumo, mas posso apostar que a venda de livros de literatura-estrangeira é muito maior do que a nacional. E posso apostar isso simplesmente olhando a disposição dos livros nas livrarias, dá para contar no dedo os livros nacionais em lugares de destaque. 

Eu não estou querendo dar lição de moral em ninguém. Aliás que sou eu para isso: aquela que tem 98% da sua biblioteca de autores estrangeiros (se não for mais). E também não estou dizendo para você sair ajudando todos os novos autores que vir pela frente. A questão é: tenha mais atenção aos novos autores, procure saber mais sobre suas obras e história de vida, você pode acabar se surpreendendo.

Por que todo esse meu falatório? Porque estou vendo de perto a dificuldade de algumas amigas para seguir nessa vida de escritora. Infelizmente, a produção dos livros é muito cara, sejam através de editora ou de maneira independente e o retorno financeira não é nem longe rápido. Então, não recuse conhecer melhor um autor porque seu livro é caro e ele é desconhecido. Afinal, quantas vezes você não pagou 40 reais em uma das edições do Harry Potter quando ele foi lançado? 

Lembrem-se, assim como você não deve julgar um livro pela capa, não julgue um autor por ser novo*!


* Quando digo "novo" faço referência a novidade da existência dele para você, porque muito deles já estão na luta há muito tempo (como o caso do senhor-escritor =/). 

Um comentário:

  1. Infelizmente essa é a nossa realidade.
    Eu faço o possível para ajudar a nossa literatura e fico muito contente quando leio textos desse tipo, que incentivam as pessoas a lerem mais nacionais.

    Minhas Impressões

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